Ter um bom radar
situacional é sinônimo de inteligência social. Provavelmente já fomos vítimas
de pessoas com cegueira ou insensibilidade situacional. Já nos deparamos com
pessoas que agridem as outras com seu comportamento rude e com sua total falta
de percepção de quem está ao seu lado.
Moro em uma região muito
quente e úmida no verão. O resultado são pés inchados, que por sua vez fazem
com que o sapato ou a sandália apertem. Até aqui, sem novidade, quem já não
sentiu seu pé inchado e a sandália ou o sapato fazendo calo?
Conheci André (nome de
meu personagem), no curso sobre postura profissional que ministrei dias atrás.
André, um executivo de negócios que se vangloria por ter um jeito descontraído
de se portar e lidar com as pessoas, sempre cai na tentação de tirar seus
sapatos quando está em reunião. Diz que é para aliviar seus pés, o que lhe
ajuda a pensar melhor e se concentrar mais nos assuntos em pauta. Não pretende
abrir mão “deste conforto”.
O que para André é uma
ação normal, para seus colegas de trabalho e de reunião é constrangedor. André
protagoniza uma das muitas atrocidades de boa civilidade que determinadas
pessoas cometem e nem se dão conta. Sua miopia de civilidade não o faz ver que
sua atitude constrange os outros, que é feio e o cheiro ao tirar os sapatos
pode ser desagradável.
Em seu livro Inteligência Social, Karl Albrecht trata
das cinco dimensões da inteligência social, sendo a consciência situacional uma delas. Albrecht entende a consciência situacional como a habilidade
de ler situações e interpretar o comportamento das pessoas em tais momentos.
A cegueira ou
insensibilidade situacional, ou ainda a falta de consciência situacional,
manifestam-se quando nos esquecemos de ligar o “radar situacional” ao sairmos
de casa. Saímos com a percepção desligada e por isso não conseguimos perceber o
que o outro faz, diz, o que dizemos ao outro e os efeitos disso no outro. E
André, pelo visto, quer permanecer com seu radar desligado.
Um profissional, por
exemplo, revela sua falta de consciência situacional, quando: grita para ser
ouvido, aponta outros com o dedo, gesticula demais, não é pontual, faz piada de
tudo, é intrometido, é o “sabe tudo”, não sabe quando falar e quando segurar a
língua, tem frequentes atitudes de infantilidade e de total descontração, e
assim por diante...
Concordo com Albrecht
quando afirma que devemos respeitar e desenvolver a arte da consciência
situacional para conviver bem uns com os outros. É sermos capazes de estimar
rapidamente a situação em que nos encontramos e dar a melhor resposta. A
leitura da situação vai depender da forma como aprendemos a ler e compreender o
contexto social, o que – por sua vez - nos permitirá compreender o
comportamento do outro e agir com sabedoria diante do contexto. Permite-nos ter
a percepção do impacto de nosso comportamento sobre os outros e do impacto das
necessidades e interesses alheios.
Temos nosso radar
situacional avaliado por conhecer e por praticar – ou não - regras e códigos de
conduta. Listamos algumas condutas básicas que, se praticadas, sinalizarão que
seu radar situacional está bem ajustado.
Entradas
e saídas
Sempre seguramos a porta para quem
está vindo atrás. Claro, o homem ainda continua abrindo a porta para a mulher.
Puro cavalheirismo!! Também aplicado para a porta do carro.
Por uma questão de deferência, o
mais jovem abre e segura a porta para a pessoa mais velha; e o colaborador faz
o mesmo com relação ao seu superior, seja homem ou mulher.
O
espaço pessoal do outro
O espaço pessoal do outro é respeitado
quando se mantém uma distância aproximada de um braço esticado entre um e
outro. Evita-se assim invadir a zona íntima de conforto do outro. Distância que
se fica geralmente de pessoas em ambientes de trabalho, recepções, reuniões. Em
elevadores, devido sua lotação, este espaço acaba sendo invadido, e todo
cuidado é necessário. Por isso Allan & Barbara Pease, em seu livro Desvendando os Segredos da Linguagem
Corporal, recomendam que não se fique olhando nos olhos das pessoas; que se
mantenha uma expressão impassível.
Elevador
Só se entra no elevador quando não
houver mais ninguém para desembarcar. Ao entrar, cumprimenta-se cordialmente
quem está. Nada de segurar a porta para terminar um assunto com a pessoa que
continua subindo mais um andar. A conversa deve ser congelada quando se entra
no elevador.
Onde
está escrito: use-me aqui e agora?
O palito – sempre alvo de ressalvas
e advertências quando se trata de etiqueta à mesa - é uma ferramenta comum a
serviço da deselegância de se fazer a higiene bucal. O toalete é o único lugar
para se usar o palito de dentes.
Garçom,
por favor!
O garçom - um profissional que
merece nossa especial consideração. Chama-se o garçom com um sinal discreto e
sutil: “Garçom, por favor!”. Nada de erguer o braço, tilintar o copo ou a
garrafa com o talher, ou estalar os dedos. E nem pensar de chamá-lo de “amigo”,
“chefia”, “campeão”.
Postura
respeitosa em velórios
As condolências devem ser sinceras,
mantendo-se uma postura respeitosa e compenetrada. Cuidado com cumprimentos mais
expressivos, conversas em voz alta. Velório não é lugar para assuntos de
negócios. O silêncio diante da morte ainda é respeitado.
Lembrar
nunca é demais!
O celular deve ser mantido desligado
(ou em modo silencioso, vibracall) em lugar público: restaurante, igreja,
biblioteca, transporte coletivo, cinema, reuniões.
Acredito que a
civilidade se aprende. Onde? Em casa, na escola, na universidade, no trabalho,
no ônibus, no parque, em sociedade na convivência com o outro. E por quê?
Porque queremos ser pessoas melhores hoje do que fomos ontem, e porque queremos
estabelecer uma relação de confiança com as pessoas que interagimos no ambiente
de trabalho. Relação de confiança que é fortalecida por atitudes pautadas na
educação, na humildade, na discrição, na generosidade, no respeito, no bom
senso, no amor, na cordialidade com os outros.