sexta-feira, 27 de abril de 2018

Uma educação para as certezas ou para as dúvidas?



Queridos e queridas profissionais da educação, quero compartilhar com vocês alguns parágrafos extraídos das páginas 148-149, do livro As Paixões do Ego: Complexidade, Política e Solidariedade, escrito por Humberto Mariotti (Editora Palas Athenas, SP, 2000).
Decidi reler o livro, que havia lido em 2000, logo depois de lançado, para ver se consigo ter uma compreensão mais ampliada a respeito da “complexidade”, do “pensamento complexo” e do “pensamento sistêmico”, bem como suas aplicações práticas. 
Aliás, convido vocês também a se conectarem a essas questões relevantes da atualidade. Até porque, como afirma Mariotti, as mudanças que caracterizam a transição do moderno para o pós-moderno têm deixado cada vez mais clara a necessidade de uma busca de novos valores.
Então, abre aspas.... 

“A questão é saber se é possível alcançar e manter uma vida digna, num mundo em que a competição predatória e a exclusão social surgem como determinantes cada vez mais destacadas.
[...] A escalada do desemprego é um desses efeitos, e o estresse, a ansiedade e outros problemas daí decorrentes precisam ser dimensionados e enfrentados. Para tanto, é necessário entender que não é possível lidar com problemas de hoje com a mentalidade do Iluminismo.
O que se pede às pessoas, hoje em dia, é senso de iniciativa, criatividade e capacidade de aprender continuamente. O que se exige delas é incompatível com a acomodação, e com a ideia de que a mera obediência a regras e normas é o bastante. É por isso que a capacitação técnica, a aplicação e a disciplina, precisam ser complementadas pelas habilidades de inovação e adaptação incessantes. É preciso sair da repetição como orientação única e aprender a lidar também com a diferença.
[...] 
A educação para a repetição e para a mensuração foi mais ou menos útil durante longos anos, durante os quais o que se exigia das pessoas era apenas a disciplina, o cumprimento de regras e um grau de especialização o mais alto possível. Para atingir esses objetivos, tornou-se necessária uma educação para as certezas, não para as dúvidas, e um adestramento para a estabilidade, não para a mudança.
Mas agora percebemos que caímos em nossa própria armadilha, e que as capacidades necessárias para sair dela não nos têm sido proporcionadas pelo sistema educacional dominante.  Este precisa sofrer mudança profundas. Mas a sua própria hegemonia faz com que essas modificações sejam de difícil implementação, pelo menos a curto e médio prazo. Além do mais, há todo um contingente de pessoas já graduadas, em atividade e ocupando postos de poder, que terão de se reciclar por outros meios – se forem convencidas a fazê-lo.
Daí a importância dos grupos, organizações e instituições nesse esforço de aprender a aprender. Para operacionalizá-lo, é importante a aquisição das seguintes competências: a) autoconhecimento; b) respeito pela diversidade; c) capacidade de trabalhar eficazmente em equipe; d) capacidade de trabalhar de forma segura e não agressiva ao meio ambiente; e e) desenvolvimento de pensamento crítico, espírito comunitário, solidariedade e cidadania.” (Fecha aspas).

Uma valiosa reflexão para vocês!


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